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Goiânia - Brasil
      

 

 

306 páginas

Livro Impresso :R$ 45.00
E-Book:..............R$ 30,00

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capa itina

 

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TRECHOS DO LIVRO...

 

A visão do rei...

--- Minha amada rainha, - diz Desmetéia fazendo uma reverência, com um sorriso no rosto -  fico imensamente feliz em vê-la viva, firme e forte à frente das nossas irmãs.

--- Que surpresa, minha amiga! De onde tirou tantos soldados? O que eles querem?

--- Não vieram atacar nossa gente, senhora. São a escolta do rei! O Rei Felipe II está na carruagem estacionada ali atrás! Deseja que a senhora o receba!

--- Fico lisonjeada, Desmetéia, mas nesse momento talvez não seja uma boa hora. Estou com os últimos dos nossos inimigos entrincheirados em uma sala. Logo os terei em minhas mãos e saberei tudo que precisamos saber! Vou acabar de vez com essa carnificina secular!

--- Perdoe-me por insistir, minha senhora, mas acredito que seria conveniente essa conversa. O rei é nosso amigo e procurou-me tão logo soube dessa nossa luta com esses homens. Ele tem meios de tornar essa sua vitória ainda mais forte. Ele é um rei sábio. A senhora gostará de conhecê-lo.

--- Você sabe que sempre ouço os seus conselhos. É uma guerreira sábia e tem sido a minha melhor amiga. Pois bem! Mande-o vir que o recebei com todas as honras!

--- Agradeço a confiança, senhora. Mas aprendi nesses anos em que fiquei aqui, convivendo com essa nobreza que, mesmo que seja para derrotá-los, tem que ser feito com diplomacia. Eles gostam disso! São destruídos pelos próprios medos. Isso, às vezes, é mais eficaz que nossas espadas. Estou apostando nisso! O rei saberá usar essa vitória, tanto para ajudar, como também para se promover. Essa ajuda é uma oportunidade única, junto aos outros reis, e poderá determinar de vez a nossa existência.  

--- Então vamos ouvi-lo. Vá chamá-lo. Vai ser aqui mesmo, de fora da casa. Só depois de conhecer as intenções reais dele é que o convidarei para entrar. Está bem assim?

--- Ouço e obedeço senhora! – Diz Desmetéia, saindo em direção à carruagem real. Ela caminha com elegância e os seus passos são comedidos. Sabe que todos os olhos estão presos na sua figura. Mas uma pergunta está em todas as cabeças, além de ficar admirando o corpo bonito da guerreira de ébano. Querem saber o que a rainha Mirina disse. “--- Estou começando a gostar dessa tal diplomacia” – fala Desmetéia, em seus pensamentos, já perto da carruagem real.   

Felipe II, o rei de Portugal, depois de ouvir Desmetéia com atenção, soltou o ar do peito mais calmo. Estava apreensivo com a recepção. Mesmo sendo levado à rainha por Desmetéia, em nenhum momento se sentiu seguro. Os olhares das mulheres em cima daqueles muros não diziam: Seja bem-vindo!

Ajeitou o casaco, puxou as pontas do bigode, deu uma olhada no espelho e abriu a porta pra sair. Desceu os degraus lentamente enquanto olhava ao redor. Sua cabeleira loura e grande, bem penteada estava bem apertada à cabeça, dando-lhe um ar de autoridade. O casaco azul, bem cortado e cheio de botões de ouro, destacava por sua beleza. Olhou para o bico dos sapatos e ficou satisfeito com o brilho que eles emanavam. Estava pronto.

Tirou os olhos do chão e olhou para o lugar onde Mirina o esperava.  Sofreu um baque no coração. A mulher que estava de pé, ereta na frente do muro, era uma loura fantasticamente linda, como ele nunca vira em lugar nenhum. Alta e de corpo esguio, com uma pele queimada pelo sol, destacando a sua presença incontestável. Aquela jaqueta amarela claro, feita de couro amassado, deixava à mostra um par de seios fartos, onde um medalhão de ouro brilhava ao sol. Ele ficou sem fala, quase não conseguiu dar o primeiro passo. Seus olhos não desgrudam da mulher e desce para o saiote era feito do mesmo material que a blusa, que deixava à mostra um par de pernas torneadas e fortes, as mais lindas que ele já tinha visto. Enquanto ele estava admirando a beleza de Mirina, ela leva as mãos aos cabelos e os joga para trás, num gesto natural que a torna cintilante aos olhos do rei. Ela sorri na sua direção.                “--- Como é linda!” – pensa com seus botões de ouro, se achando lindo também.

--- Rainha Mirina, a saúdo com toda alegria da minha corte em tê-la conosco! – diz, com a voz tremida. --- Sua beleza ofusca minha mente, senhora – fala, enquanto faz uma mesura respeitosa, afinal ela era uma rainha também. --- Sou, desde já, um fervoroso amigo seu, se assim o desejar! – fala o rei, repetindo o movimento de cumprimento.

Mirina é pega de surpresa. Não imaginou que um homem pudesse ficar tão impressionado com a sua beleza. Como toda mulher, gostou de receber o elogio, mas não se esqueceu do motivo.

--- Vossa majestade exagera em suas palavras, - fala, enquanto retribui o cumprimento fazendo também uma mesura para ele - mas agradeço o elogio. Tenho ouvido muito a respeito do senhor e gostei do que ouvi. Comprovo agora a sua eloqüência. Estou feliz em conhecê-lo, embora a ocasião não seja propícia. Estou no final de uma batalha que acontece há centenas de anos. Tenho os meus inimigos presos em uma sala e quero tê-los em minhas mãos! Cansei de ver minha gente atacada e morta, por motivos que não sabemos!          

--- Conheço vossos sofrimentos e quero que saiba que estou completamente ao seu lado – fala o rei, chegando mais perto de Mirina. Ele, disfarçadamente, saboreia aquele cheiro de fêmea que emana da mulher. Mas o momento é de guerra e muda o semblante. --- Por isso vim até aqui, minha senhora! Vim trazer a minha opinião e o meu conhecimento de situações como essa.  Quero contribuir para o final de tudo isso de maneira que a senhora seja a feliz vencedora.

--- Estou desejando isso com toda minha energia, majestade. Mas não depende só de mim. Quero tirá-los da sala onde estão presos, com vida. Preciso das informações que eles podem nos dar, mas temo que irão lutar por suas vidas. Isso será o fim de todos eles.

--- Nessas horas, minha senhora, as palavras certas fazem milagres. Caso permita, gostaria de falar com eles, na sua presença, para encontrarmos uma solução. Eles me ouvirão e poderemos tirar muito mais deles, agindo assim, do que usar a força.

--- Sempre acreditei na força das palavras, meu senhor. Sei que as suas têm poder. Por favor, pode chamar alguns dos seus guardas para acompanhá-lo, se quiser, e vamos tentar da sua maneira. Quem sabe conseguiremos resultados.

--- Não preciso de guarda-costas, minha senhora. Estou muito bem protegido na sua companhia! – fala o rei, num arroubo de eloqüência. --- Quando quiser, seguirei seus passos.

Mirina sorri, ainda sem entender aquele tipo de palavreado usado pelo rei, mas sente que ele é sincero. Que deseja realmente ajudar. Olha para Desmetéia, que sorri de volta, como que querendo entender tudo o que passa na cabeça de Mirina.

Logo estão junto à porta e as guerreiras, ao comando de Mirina, abrem espaço para que a comitiva chegue mais perto da porta. Todos ficam em silêncio. Ao que parece o tempo parou.

 

Tentativa de capturar a filha da rainha...

--- Lá vai ela no rumo do rio, Matheus. É só pegá e dá no pé!    – diz o homem de cabelos grisalhos, amarrados em forma de um rabo-de-cavalo. --- Num vamu  perde essa hora!

--- Calma! Espere um pouco Rui. Se a gente for seguir a sua cabeça vamos acabar varados de flechas! – diz o outro, segurando o amigo pelos ombros. ---Observe bem! Ela não está sozinha! Nunca está! Veja! – aponta com o braço – está vendo logo atrás dela? Ali têm, pelo menos, umas quinze guerreiras. Quer correr o risco? Se quiser, pode ir! Eu não sou tão louco!

--- Disgrama, sô! – responde o velho. --- Será que nunca vamos pegá ela sozinha?

--- A paciência foi feita para bichos de rabo longo, meu amigo. Quem é apavorado acaba na sopa dos outros! Por hoje chega. Vamos voltar para o acampamento. Hoje é dia de festa para ela. Vai ser assim o dia todo.

--- É muita farta de sorti...

--- Nada disso, meu caro. Foi sorte grande ter visto as guerreiras da guarda, senão, poderíamos estar em maus lençóis  – fala o outro, dando um cutucão nas costas do amigo. --- Outro dia, quem sabe.  Vamos embora!

Os dois juntam as coisas silenciosamente e voltam nos passos que os levaram até ali. Sabiam que corriam riscos e que poderiam ser pegos a qualquer hora, mas o prêmio valia à pena. Desde que foram procurados por aquele homem misterioso, lá na vila, a uns quatro meses de viagem daqui, que tinham uma missão: Seqüestrar a garota de longos cabelos louros que viram a pouco correndo e pulando junto com duas amigas, em direção ao rio. Fazia quinze dias que eles haviam chegado e desde então, usando as técnicas de caçadores, chegaram bem perto da cidadela das guerreiras amazonas sem serem descobertos. Depois de bem amoitados ficaram à espera de um momento propício para atacar.

Quando receberam a oferta, naquela noite escura, estavam num pequeno quiosque onde vendiam peixe frito e vinho do Porto de baixa categoria. Vinho barato, só para embriagar.  Haviam bebido umas duas garrafas quando o homem chegou e sem ser convidado sentou-se na mesa com eles. A primeira reação foi a de expulsar o invasor, mas ele foi mais rápido e mostrou a mão cheia de moedas de ouro. Quem tem ouro não precisa de convite.
--- Soube que estão à procura de trabalho – falou o homem com uma voz azeda. Parecia que falava de dentro de um buraco.--- Se quiserem e estiverem dispostos a enfrentar a selva tenho um serviço para vocês.

--- Nois infrenta quarquer coisa, seu bosta! – Respondeu Rui, limpando as beiradas da boca suja de óleo de peixe. --- Num tem nada que a gente num faiz, não é mesmo cumpade?

--- Calma, Rui! Não podemos ir aceitando tudo quanto é proposta. Qual é o serviço, senhor?

--- Quero que vocês busquem uma encomenda para mim, lá na selva, longe daqui. Pago bem e, em ouro. Metade quando saírem e o resto quando entregarem a encomenda.

--- Isso é muito vago. Metade de quanto? O que vamos ter que fazer para merecer o seu ouro?

--- Quero que seqüestrem uma garota índia para mim. Pago trezentas peças de ouro!

--- Uau! Cumpade! O que estamos esperando?

--- Um “servicinho” como esse tem muita gente por aí que faz – responde Matheus, sem se importar com a interrupção de Rui. --- Eles cobram mais barato que nós. Nosso preço é bem alto. Só pegamos serviços especiais, aqueles que outros rejeitam. Cobramos a mais por isso.

 --- Valor não vai ser problema. Garanto as trezentas peças de ouro. Resta saber se vocês têm “culhões” para isso! – fala o misterioso, com um sorriso no rosto.

O Rui já começava se levantar para revidar, mas foi seguro pelo braço por Matheus. Ele pensava bem antes de dar uma resposta e o que aquele homem estava propondo não devia ser fácil. Deve ser perigoso e arriscado demais para ele oferecer uma quantia tão grande. Era muito ouro. Dava para começar a vida novamente, lá no Velho Mundo e ele estava cheio daquele lugar infestado de mosquitos famintos.  Olhou para o homem e só agora se deu conta que ele continuava com um capuz na cabeça e a mantinha abaixada. Não dava para ver a fisionomia dele direito. Ali tinha coisa. Precisava descobrir tudo antes de aceitar a encomenda.

--- O senhor sabe muito bem que não temos medo de nada. Quem nos indicou deve ter falado sobre nós. Quero saber o que realmente quer que a gente faça?

--- Conheço bem vocês dois. Tenho andado de olho em vocês há um bom tempo. Estava só atiçando. Sei que são capazes.

--- Capazes de quê?

--- De seqüestrar a filha da rainha das amazonas! – fala o homem de capuz, com um sorriso nos lábios.

Essa conversa havia sido feita há quatro meses. Desde aquele momento Matheus não dormiu tranqüilo como fazia antes dessa aventura. Aquela noite era fria, do mesmo jeito que o sorriso do homem. Parece que ele tinha a certeza de que eles iriam falhar. Será por quê?    

Agora, voltando à realidade, ele observa que de onde estavam viam boa parte da cidadela. As ruas eram limpas e as casas, em forma de choupanas, com chaminés fumegantes, eram bem feitas. As guerreiras andavam por todos os lados felizes da vida. Uma cena que ele nunca iria esquecer Era muita mulher junta! Teve inveja da felicidade daquelas mulheres. Elas tinham aquela imensa floresta como moradia e a segurança da união de todas. Um grupo unido, coeso sem que nada as separasse. Pena que eles iriam acabar com toda aquela tranqüilidade.

Para eles o que contava era o ouro que estava esperando por eles na vila. Com ele poderiam sair desse mundo de selvas e bichos traiçoeiros. Não iam deixar essa oportunidade passar.

 

 

Conheça a fera!

Socorro! Ajudem-me! – foi o grito de dor que chegou aos portões da cidadela. --- Levaram a filha da rainha! Socorro!
           
Em segundos os portões foram abertos e uma centena de guerreiras saiu em disparada em direção ao grito da guerreira ferida. Logo chegam onde ela estava caída, a uns quarenta metros da entrada da cidadela. Estava sangrando muito e provavelmente não sobreviveria àqueles ferimentos.

            --- O que aconteceu Iraida? O que foi?

            --- Dois homens nos atacaram ao lado da grande pedra da cachoeira. Eles mataram as quatro garotas que estavam conosco, cortaram a garganta de Uzla, e depois vieram para cima de mim e de Ítna. Não pude fazer nada!

            --- Levem-na para as anciãs e avise a rainha que fomos atrás dos agressores – fala Terena uma guerreira de longos cabelos negros e olhos cor de mel. Naquela hora os seus olhos eram duas chamas incandescentes de ódio.  --- Vamos! Eles não devem estar longe! Não podem cruzar o rio. Vamos cortar caminho por entre os morros agudos. Vamos esperar por eles. Não tem outro caminho – fala, enquanto dispara numa corrida desenfreada no rumo indicado. Atrás dela, mais de quarenta guerreiras soltam seus gritos de guerra.   

****

---τα σκυλιά του από την κόλαση! Ας πάμε για μένα! Τραβάτε τα μάτια σας ...! (--- Seus cães do Inferno! Soltem-me! Arranco os olhos de vocês...)

--- Nossa! Cumpadre! O que essa pestinha tá destilando? Num intendo nada!

--- É a língua delas Rui. Fique calmo, ela provavelmente deve estar nos xingando! – ri, ao sentir quer era isso mesmo que a garota gritava. --- Fica quietinha aí, pirralha! Não faça tanto barulho! Se não calar a boca vou ter que desmaiar você! – fala Matheus, segurando firmemente no braço da garota enquanto falava.

--- Μητέρα μου πηγαίνει σας wonâ ενσωματώνεται ικανοποιητικά να διστάσει, σας σκουλήκια! Η δύναμη του Άρη, θα περικόψει bits off Ι ίδια κρέας τους. Ναι, θα είμαι!  (--- Minha mãe vai trucidar vocês, seus vermes! Pelo poder de Ares, vou retalhar eu mesma as suas carnes. Vou sim!) – fala, com um sorriso de ódio no rosto.

Até aquele dia Ítna conhecia um único homem branco: Seu bisavô, o velho Alessandro Alencastro. Ele a tratava com carinho e ela gostava de passar o dia com ele. Era muito diferente daqueles dois bandidos que a seqüestraram.  Estes eram iguais aos cães que perseguiram seu povo na antiguidade. Deviam morrer! – pensa, com ódio no coração.  Sabia da existência deles pelos relatos de suas aias. Elas contaram as batalhas que Ariosch Mell e sua mãe, Mirina, haviam travado com os últimos brancos.

--- Με τη θεά Άρτεμη, σκότωσε τα δύο σύντομα, σκουλήκια! - (--- Pela deusa Ártemis, vou matar vocês dois com prazer, seus vermes! ) – grita a garota, antes de levar uma pancada na cabeça e tombar desmaiada.
 
--- Xingando ou não, cala a boca! – grita Matheus, perdendo o controle. --- Como fala essa menina! Assim está melhor. Não quero mesmo saber o que ela está falando. Fica assim, quietinha, viu!  

****

Foi tudo muito rápido. Os dois aventureiros nem viram o que os atacou. Em segundos estavam cercados por dezenas de guerreiras com olhos cheios de ódio. Matheus mal teve tempo de deixar o saco que carregava nos ombros cair no chão, onde estava a filha da rainha, quando sua cabeça foi separada do corpo. O golpe da espada foi certeiro e rápido. Os olhos vitrificados ainda viram o amigo ter o mesmo destino e cair ao seu lado.

 

Casa nova, vida nova!.

Desmetéia girou o corpo musculoso em cima da esteira onde estava deitada, sob a árvore frondosa cheia de pássaros cantando o tempo todo e olhou para o céu com prazer. As nuvens brancas que bailavam acima da sua cabeça, estavam começando a carregar suas fronhas e logo, logo a chuva ia cair. Ela gostava de sentir os pingos da chuva em seu corpo e mais uma vez iria saborear esse momento. 

Levantou-se com cuidado para não acordar a parceira que dormia tranqüila, feliz e esquecida da vida. Deu-se o prazer de soltar um leve sorriso, uma coisa rara em seu rosto, enquanto olhava para o corpo nu e perfeito da moça. Ela devia ter pouco menos de trinta anos. Aliás, era a idade média das suas guerreiras ali, naquela terra estranha. Todas haviam sido afetadas, mesmo que de maneira que imperceptível, pela nova morada. Estavam com saudades de casa. Ela também sentia falta da mata impenetrável e traiçoeira do lugar onde nasceu. Lá, longe daqui, parecia que o dia sempre era mais cheio de vida, mais misterioso e belo.

Ela anda até a beira do penhasco e deixa a sua visão passear por toda a extensão da propriedade. Não dava para ver toda ela. Era imensa e cercada da proteção que suas guerreiras precisavam. Aquela parte onde estava era banhada pelo mar, e de uma beleza sem igual. As águas, que cada dia era de uma cor diferente, prendia a visão. Mas não era a sua casa.

Lembra que há dez anos, quando chegaram a esse Velho Mundo, ela entregou a Rodrigo um pequeno baú cheio de pedras preciosas e uma mensagem da rainha Mirina. Ele deveria usar aquelas pedras para comprar terras para que suas guerreiras tivessem uma casa. A rainha pedia ainda, que o lugar fosse de grande extensão e separado das outras pessoas. Nada deveria faltar às suas guerreiras.

--- Desmetéia você sabe o valor destas pedras? – pergunta o rapaz, não acreditando na fortuna que estava sendo entregue para ele. --- Isso aqui é dinheiro para comprar quase um país, minha amiga! – fala com olhos admirados de tanta riqueza. Desde o início da viagem, quando saíram da cidadela das amazonas, que ele se dirigia a ela chamando-a de amiga. Desmetéia, apesar de querer se manter distante, não conseguia deixar de sentir-se especial, quando ele falava com ela dessa maneira.

--- São somente pedrinhas que as guerreiras retiram de alguns lugares na aldeia, Dom Rodrigo. Nada demais! Elas gostam de usá-las como moeda de pagamento de jogos. Não valem muita coisa.

--- Mesmo? – exclama o rapaz, impressionado com a simplicidade da guerreira. --- Que coisa incrível! --- Aqui neste Velho Mundo essas pedras compram muita coisa – continua, ainda não acreditando no que os seus olhos viam. Na sua mão havia um diamante quase do tamanho de uma uva. Nunca havia vista nada desse tamanho. --- Mirina, mesmo distante, continua surpreendo. Como ela foi pensar nisso!

--- Antes da nossa viagem, ela me chamou e entregou esse baú. Disse que no mundo que íamos morar essas pedras valia muito. Era para entregá-las para o senhor, Devem ser usadas para comprar um lugar onde tenhamos a nossa privacidade, para continuar sendo nós mesmas. Um lugar separado das outras pessoas.   
--- Claro! Como não pensei nisso! Não se preocupe, vou comprar um lugar especial para vocês! – fala o rapaz, sopesando a pedra nas mãos. --- Um lugar bem grande e perto do mar. Fique tranqüila.

Desmetéia dá um leve sorriso sem que o português veja e sente-se feliz por pregar essa peça nele. Ela sabia do valor daquelas pedras, mas nunca era bom dizer tudo que sabia. Sempre poderia existir outra resposta. Mas aprendeu a gostar do rapaz. Lá na cidadela, quando soube do romance entre ele e a rainha, sentiu vontade de entrar naquela cabana e acabar com a vida dele. Ele não podia manchar a vida de Mirina. Ela tinha uma missão a cumprir. Deveria ser rainha das amazonas e não podia se entregar a paixão de homem algum. Mas depois, vendo-o enfrentar os perigos da selva ao lado dela, não fugindo de nenhum deles, respeitou a sua coragem. Depois, viu nele, mesmo não querendo admitir, qualidade que até então conhecia somente nas suas guerreiras.

Pouco tempo depois ele a levou para conhecer o lugar que havia selecionado. Queria a aprovação dela. O lugar era distante da cidade e tinha toda a privacidade que precisavam. A parte onde se encontrava agora, em cima do penhasco, mostrava uma praia que sumia de vista. Lugar para suas guerreiras nadar e brincar longe de olhos estranhos. Havia muitos animais e pássaros que nada deixaria faltar na dispensa. Lugar ideal para nova cidadela das amazonas. Em poucos dias ocuparam a nova terra. As guerreiras ficaram exultantes. Na quinta de Rodrigo, mesmo sendo tratadas com muita presteza, eram estranhas, não pertenciam ao lugar. Agora estava em casa.

Mas o coração de Desmetéia pressentia que ela nunca mais voltaria a sua cidadela, como disse à Mirina antes de partir. Naquele momento sabia que havia dito uma verdade. Não voltaria mais. Não dava para voltar.

As negociações que iniciou com a ajuda de Rodrigo, logo depois da compra das terras, para que os reis europeus reconhecessem as amazonas com nação, nunca terminavam. A diplomacia da corte de Portugal e Espanha e outros países que ela havia visitado, também tinham laços que os obrigavam, de alguma maneira velada, obedecer as imposições do chefe dos homens de roupas pretas, conhecido como Papa. 

Aqueles homens de roupa preta estavam em todos os reinos e participavam das decisões do rei com grande poder de influencia. Eles,  mesmo mostrando sorrisos e mesuras quando encontrados, eram verdadeiras de serpentes traiçoeiras que agiam na calada da noite, anulando tudo o que ela e Rodrigo havia negociado por meses a fio.

As tentativas dela e Rodrigo em falar diretamente com o papa sempre esbarravam em centenas de motivos que iam desde um simples resfriado ou uma espinhela caída. Doenças que ela nunca havia ouvido falar. Desculpas esfarrapadas para não atendê-los. Ela não conseguia falar com o homem que vivia na casa grande, lá num lugar chamado Itália. Estava tão distante de uma vitória, como no dia em que chegou.    
...

 

 


Atacando o inimigo!


--- Tenha cuidado, Sboerana. Temos que invadir esse lugar, mas o faremos com segurança, entendeu? Não quero ações precipitadas.

--- Pode confiar, minha senhora. Agirei com prudência. Quero saber o que aconteceu... ele estava seguro aqui. Não entendo? – fala, ainda conversando consigo mesma.

--- Não temos muito tempo, o capitão pode estar correndo perigo de vida. Cada minuto que passar, maior será o risco para ele. Vá, logo!
Sboerana em poucos segundos convoca duas moças e saem à procura de uma brecha naquela fortaleza. Sobem no telhado da casa vizinha e, de lá, pulam para o telhado do casarão. Seus pés agem silenciosos e rápidos. Estão acostumados a todo tipo de situação e sabe pisar suave, sem deixar marcas por onde andam.

Logo chegam ao telhado principal, por onde podiam ter acesso a todas as áreas da casa. Escolhem um ponto próximo e retiram q cobertura com cuidado para não chamar a atenção. Logo estavam dentro da casa. Esgueiram-se pelos corredores estreitos e mal iluminados, avançando lentamente, para não serem surpreendidos. Os sons e os movimentos dos residentes eram filtrados com cuidado. Não podiam ser descobertas, pois se isso acontecesse teriam que lutar ferrenhamente para sair com vida daquele lugar. Cada passo que davam a possibilidade de serem descobertas crescia. O objetivo era chegar até uma passarela que terminava junto à porta que precisavam abrir. Passos com cuidado e sem pressa.

Encontraram dois homens sentados à porta de uma sala fechada. Eles conversando sem nenhum tipo de preocupação, afinal o perigo estava de fora dos muros da casa, Como um raio as duas guerreiras pularam em cima deles e com gestos rápidos e certeiros, cortaram as gargantas com as suas facas afiadas. Não houve nenhum som, só esguichar do sangue expelido das gargantas.

Sboerana, depois de certificar que ninguém ouviu os ruídos feitos pelo ataque, abre a porta com cuidado e olha para seu interior. A sala está escura e silenciosa, só uma mancha caída num canto parecia ter vida. Ela se aproxima com a faca na mão, pronta para ser usada, quando seus olhos se deparam com o rosto do capitão Zé Pereira. Ele está desfigurado, com as carnes feridas e sangrando. Um olho estava fechado envolto em uma mancha escura. Sinais de sangue na roupa e os olhos fitando a guerreira com agradecimento.

--- Capitão! – consegue falar Sboerana.

--- Eu não saí de lá sozinho, minha amiga. Fui atacado por uns dez homens - fala, com um som diferente da voz. --- Obrigado por vir, mas não se preocupe comigo. Se estiver sozinha tem que sair daqui o mais rápido possível. Não posso andar. Quebraram minhas pernas! Vá você! Eu me agüento...

--- Nada disso! Fique quieto! Vamos sair juntos!  – responde a garota, colocando novamente a cabeça dele no chão e foi até a porta chamar as companheiras e avisar que havia encontrado o capitão.

Voltou no mesmo passo e assim que chegou perto dele, passou as mãos sob os ombros e num impulso forte o jogou por cima dos seus ombros. O capitão, um homem com mais de oitenta quilos ficou pequeno ao ser carregado. A guerreira libera uma das mãos, onde coloca a espada afiada e inicia o caminho em direção ao portão de saída. Ainda não havia descoberto o ataque e ela contava com isso. Sabia que se conseguisse abrir o portão estavam salvas. O resto, Mirina terminaria.

Elas caminham coladas à parede, procurando fugir da luz, mas de nada adiantou, o alarme foi dado e o pátio virou um formigueiro de homens armados até os dentes, gritando frases de alerta por todo o canto. Logo foram descobertas e o inimigo partiu para cima delas.

O que aqueles homens não sabiam é que aquelas três mulheres eram o demônio em pessoa e os atacantes, mesmo em número superior, foram caindo um atrás do outro. O inferno abriu as portas!

Sboerana, com o capitão preso às costas, manejava a espada com uma maestria de fazer inveja. Aqueles que a imaginavam frágil pela carga que carregava, sentiram o aço da sua lâmina cortando suas gargantas antes de saber o que era. Ela era mortal de qualquer jeito.

Uma das guerreiras foi abrindo caminho a força, matando o que encontrava pela frente. Depois de estraçalhar a barriga de um gordo que voou para cima dela gritando palavrões, chegou ao portão e começa levantar a tranca, quando um disparo certeiro a atinge na cabeça. Ela, ainda com a mão presa à alavanca, travada na mão na hora da morte, ao cair puxa a tranca e o portão começa abrir com um rangido.   

Do outro lado do muro Mirina ouviu a gritaria e soube na mesma hora que suas guerreiras foram descobertas e estavam em apuros. Arrancou a espada da cintura e disparou em direção à parede alta que cercava a casa, enquanto gritava para suas guerreiras invadirem por qualquer lugar que conseguissem passar.

Movidas pelos gritos de guerra da rainha elas avançaram para cima daquele muro e em segundos o transpuseram. Mas nessa hora algumas delas, ainda sem alcançar o muro, viram o portão começando abrir. Bastou um grito indicando a descoberta e um enxame de abelhas furiosas disparou numa corrida louca naquela direção de armas em punho. Logo, estavam no pátio e descobriram Sboerana com a sua espada reluzente e foram em seu socorro e da outra sobrevivente, já ferida com um longo corte na perna, por onde perdia muito sangue, e as escoltaram para fora do foco de luta. Imediatamente guerreiras treinadas para situações de risco como essa, assumiram o comando, fazendo curativos e dando aos feridos o apoio que precisavam. Sboerana, depois de dar um beijo no rosto do capitão, desfalecido por causa de tanta dor, volta para a luta cortando mais e mais cabeças. Chega ao lado de Mirina, ajudando a combater o resto dos inimigos.

Em pouco tempo ocuparam todas as dependências da casa. E saem à procura dos inimigos escondidos. Logo, encontraram uma porta maciça e resistente, hemerticamente fechada, onde provavelmente estavam os homens que elas tanto perseguiam.

--- Sboerana faça uma checagem. Veja se ainda têm sobreviventes desses bandidos. Evite matar os que se rederem. Não quero exageros, entendeu. Mande que a guerreira construtora venha até aqui. Quero saber como derrubar essa porta o mais rápido possível.

 Em pouco tempo o silencio voltou. Mais de trinta homens da casa se rederam ao ouvir a voz de Sboerana dizendo que pouparia suas vidas. Ela lhes deu um minuto para pensar. Depois disso iria acabar com todos. Não houve recusa. Depusesram armas e levantaram os braços mansamente. Em seguida foram levados para um canto da propriedade onde ficaram confinados.

A guerreira construtora chegou e examinou a porta com atenção, mediu suas larguras e disse à rainha que em uma hora a porta estaria derrubada. Iria verificar na propriedade se havia alguma madeira que pudesse usar como aríete. Caso encontrasse esse tempo seria diminuído para menos de uma hora. E saiu à procura da madeira.

Mirina mandou que um grupo de guerreiras ficasse com as armas apontas e prontas para disparar, caso os amotinados resolvessem abrir a porta de surpresa. De qualquer maneira não iriam escapar. Ela os queria vivos!   

                            ****

--- Eu sabia! Falei que seria assim! – explode de raiva monsenhor Augustos Zerbinni, enquanto se deixava cair na poltrona de couro. Ele sentiu que a batalha lá fora havia sido vencida pelas guerreiras, pois o silencio voltou. Caso fossem os seus homens os vencedores teriam vindo avisar e não ficariam dando pancadas na porta, como agora. Certamente eram as guerreiras que estavam à porta. --- Vamos fazer uma barricada junto à porta. Temos que retardar o máximo a entrada delas.

--- Deixa de ser frouxo, homem! – grita Rudolf Bauer. --- Quanto mais demorar para abrir essa porta mais guerreiras estarão à nossa espera! Temos é que abrir de supetão e disparar com todas as armas!

--- Como é que você vai passar por esse batalhão de mulheres que mais de cem homens não conseguiu segurar! Está louco! – continua monsenhor Augusto Zerbinni.

--- Mas o que vamos fazer? – pergunta Severo Munhoz. --- Augustos, você tem que encontrar uma saída! Valei-me Virgem Santíssima! Ajude-nos! Não deixe que essas feras entrem por aquela por...

--- Cala boca, seu molenga! – corta Rudolf Bauer. --- Deixa de ser maricas! Pegue essa arma e fique de prontidão ali, junto à porta! Entendeu? Se você falhar, eu mesmo vou matá-lo!  

--- Tenho algumas armas aqui! Venha cá – fala Augustos Zerbinni para Rudolf Bauer. Ele sabe que apesar de ser um crápula, o mercenário não tinha medo. Era isso que ele precisava. Uma bucha de canhão. Iria aproveita essa valentia heróica que ele queria demonstrar e fugir pelos cantos enquanto ele atrair a maior parte do ataque contra ele. --- Com elas podemos nos defender melhor.

--- Mostre onde estão. Quero muita munição ao meu lado. Vou matar um monte dessas mulheres. Estou com muita raiva delas.  

Ele abre um grande baú, que estava num canto e se delicia com o conteúdo do seu interior. Ali tem todo o tipo de arma que um bom lutador desejava. Clavas, facas, punhais, bacamartes, ponteiras e espadas de todos os tipos. Cada uma mais mortal que a outra. Escolhe algumas e as coloca bem arrumadas, ao lado de onde pretende ficar, todas à mão para ser usadas a qualquer momento. Para chegar até onde ele estava, as tais guerreiras teriam que passar por um monte de armas bem preparadas nas mãos de um verdadeiro homem! – pensa, com seu macabro sorriso.

                              ****

 

Tumm! Tumm! Tumm! – a porta maciça ao receber a pancada do forte aríete, começa tremer nos seus alicerces e ao que tudo indica não via demorar muito estará no chão. --- Tumm! Tumm! – continua batendo.

--- Vai! Bate! Bate! – grita Mirina em comando! –Bate! Bate! E o pau maciço balança um metro para trás de retorna com toda força. Ela está feliz. Fazia tempos que não tinha momentos assim. Apesar de ser uma defensora da vida, da paz e da harmonia, quando era molestada não tinha dó do inimigo e gostava de sentir o aço da sua espada em ação. Dessa vez a felicidade era maior porque dentro daquela sala estava pessoas que poderiam dar fim a toda essa perseguição. O depoimento deles era por demais importante. Não os queria mortos. Mortos eles não valiam nada. Tinha que agir com cautela de comando. Não podia perder o controle das guerreiras quando a porta fosse aberta. Elas certamente iriam pular para cima dos bandidos com todas as armas e isso significa mortes dos dois lados. Ela não queria perder nenhuma guerreira. Chega de mortes!  

--- Tumm! Tumm! Tumm! ...

 

 

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