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Goiânia - Brasil
      

 

 

Contos Eroticos
 

 

Primeira Página


A chuva caia forte e densa na cidade escura. O movimento da cidade parou e o silêncio envolveu as ruas. Só ficou as enxurradas, correndo sem rumo e invadindo todos os buracos. O barulho dos pingos d'água batendo na vidraça dava a impressão de ser algo com vida própria. Algo que queria entrar no quarto e molhar tudo.

A criança do quarto ao lado começou um choro dengoso, logo acudido pela mãe e o silêncio voltou a ocupar o seu lugar. Aquele silêncio da noite só era quebrado pelo barulho ritimado do cair da chuva. Mas ele parecia mais uma melodia tantra, um som interminável.

A fumaça do cigarro que se condensava por todo o quarto como um segundo integrante daquela solidão e pairava suavemente no ar sem ter por onde sair. Ao longe, os clarões dos relâmpagos dava vida instantâneas a tudo, logo seguidos de trovões ensurdecedores. Pareciam querer partir os céus em pedaços. Não conseguiram, para meu sossêgo!

Os meus pensamentos seguiam sem rumo neste cenário próprio para filmes de terror. Paravam aqui e ali, em momentos passados da minha vida, sem se demorar muito em nenhum lugar. Parecia se dirigir para um momento escolhido. Enquanto isso, eu assistia a tudo, mudo e estático, como se estivesse em uma espécie de julgamento. O julgamento dos meus atos, feito por entidades desconhecidas e invisíveis para mim.

A consciência, que era a promotoria, agia incansável e cheia de habilidades, batia nas teclas dos acontecimentos mostrando-os, tim-tim-por-tim-tim, alheia as artimanhas do cérebro que queria tudo esconder.

Foi chamada a memória para depor. Mesmo sob veementes protestos do inconsciente, que foram indeferidos, é claro, ela teve de "abrir" as gavetas dos porões do cérebro e mostrar cenas estratégicamente escondidas, camufladas e guardadas à sete chaves.

Eu observava as telas exibidas pelo banco de memória, que nesse momento projetava imagens dos últimos momentos da minha vida, sem nenhuma reação. Estava alheio a tudo isso. Mas a cena da tela era de pouco tempo atrás.

Este filme eu já vira e queria esquecer aquelas cenas. Estava ferido e magoado.

Vi a mesma casa, que conhecia de cor e salteado, os mesmos móveis, tudo ainda nos mesmos lugares. Como se nada tivesse acontecido. Tudo terrivelmente igual a última vez em que lá estive. Até mesmo o tic-tac interminável do relógio da parede, sempre atrasado, era inconfundível.

Mesmo contra à minha vontade, era um espectador atento e não adiantava fechar os olhos ou gritar, pois as imagens e os sons continuavam nítidos, perfeitos em minha mente. Protestei, supliquei que sofrer duas vezes a mesma pena era cruel! Mas ficou tudo sem efeito, sem respostas. Os inquisidores nãzo se importavam com que eu sentia ou poderia sentir revendo aquelas cenas. Para não mais interferir, calaram a minha a voz, e fiquei impassível, assistindo tudo silenciosamente.

Os pingos d'água, caindo de uma goteira num canto do quarto, faziam um barulho ritmado deixando-me numa espécie de transe. Já não sabia mais o que era real ou sonho, e lá vou eu novamente embalando pensamentos de angustia.

Vejo-me no quarto, vestindo um terno azul; gravata com nó desfeito; camisa aberta no peito; rosto cansado; maleta na mão, cheia de papéis, um peso de chumbo no braço. Sinto um vazio, um sem nada a fazer. Sento na cama enquanto ouço o som da televisão na sala, ligada na novela interminável que passa todos os dias, cheia de promessas fúteis.

Ainda tenho nos lábios o gosto frio da tua boca impessoal, dando um "boa noite" sem sal: enquanto não chega o comercial, não cheguei, mesmo que ponha fogo na casa.

Depois do banho, a comida quase fria me alimenta e eu, sozinho na cozinha, namoro paredes e panelas que parecem querer me fritar.

*****


Outra vez, outro dia, abro a porta de mãos dadas com o cansaço e beijo teus lábios amargos, com gosto de café amanhecido.

--- Tudo bem? - pergunta, sem olhar para mim, com os olhos presos na telinha.

--- Tudo! - respondo, rumo ao banheiro que me recebe de portas abertas, cheio de fantasias eróticas de mulheres-mulheres, que com jatos da água quente que me purifica. Pelo menos aqui sou o melhor dos homens!

****


O banco, sempre cheio de gente nas filas dos caixas, dinheiro entrando e saindo a toda hora, uma roda viva na minha cabeça. Todo o dia a mesma coisa.

Na minha mesa, um amontoado de papéis e pacotes amarrados ao meio. Cifras demarcadas no anel de papel. Tantos mil.... tantos mil,... tantos mil, mais tantos e tantos mil!

Eu, como sempre, conto e reconto; torno a contar e empilho tudo do meu lado da mesa, fazendo uma pequena montanha. Fecho os olhos e lá estão eles na minha frente.

---Tem que ser papéis! - penso, comigo, desesperado, apesar de não ter um tostão no bolso.

--- Tem que ser papéis!

--- Mas, ...são tão bonitas! - olho, com olhos melosos.

--- Lindas gravuras estampadas! - continuo, em meu devaneio. Elas parecem pedir para serem tocadas, como fêmeas insaciáveis!

--- São ásperas! Atraentes!

--- Não! - quase grito, em minha tortura. --- Isso tem que parar! - não consigo.

---Tenho que visualiza-los como papéis! - falo alto, para os meus olhos de cobiça.

--- Tem que ser papéis! - repito.

--- Deus! Eu não quero! - vejo-me, gritando no silêncio da minha cabeça.

*****

A minha pasta de carregr documentos, está ao lado, jogada no chão de barriga vazia. Quantas vezes entro e saio com ela e nunca foi aberta! E eu, sem dinheiro!

Admiro a montanha de dinheiro à minha frente e, agora, agora na minha loucura, imagino que sou uma pulga saltante. Uma bem pequenina, mas atrevida! Escalo aquela montanha de dinheiro, cansado e sentindo o cheiro da tinta invadindo todo o meu ser.

*****

Saio do banho com a toalha enrolada na cintura, ainda sentindo aquele tremor nas pernas. A cama vazia na penumbra me recebe, macia e confortável para o descanso de guerreiro.

Agora, depois do intervalo da novela, você chega calmamente e com gestos estudados, vai se livrando lentamente de suas peças, deixando-as ao acaso, soltas pelo chão.

Nua, com o peito arfando, os bicos dos seios duros, róseos e empinados, aproxima-se da cama. Estremeço ao sentir a tua língua subindo das solas dos pés. Quero gritar para você parar! Não conseguirei nunca, esta é a verdade!

Tua língua, como uma espada, espeta-me por entre as pernas, arrepiando a pele indo ao encontro do mastro. Sufoca-o com sua boca gulosa. Abraços apertados me envolvem, enquanto que eu, vencido, seguro tua cabeça, prolongado este gozo infernal.

A tua boca agora é uma ventosa que suga o meu abdome, rumo à minha boca. Mesmo nessa hora, em meu cérebro, fervilha pensamentos de que ela faz isso com o outro. Sinto asco de você, mas não resisto a tua boca imunda, dizendo palavras obscenas ao meu ouvido.

Agora, novamente sou o cavaleiro e teu senhor. Penetro-a com a minha espada flamejante, festejo tuas entranhas, vingando-me, arrancando teus gemidos, como ele. Vagabunda!

Numa estocada final vingo-me, por instantes, de ti, Flor-de-lís impura!

*****

Novamente a montanha de dinheiro. Agora vejo dinheiro mesmo! Dinheiro que compra a consciência, que compra a felicidade e nos livra do abc da vida. Neste momento, - penso, amaargurado - agorinha mesmo, ele está lá em casa arrancando os teus gemidos famintos. Nos mesmos lençóis traiçoeiros.

Pena que a mangueira do bujão de gás esteja furada e aquela casa esteja fechada. Hermeticamente fechada, como você pediu que eu fizesse, tempos atrás, já que não suportava o barulho da rua.

Sinto meu corpo agora, como o de um ser volátil e perigoso guardião daquela casa.

Sou o gás que envolve todos os aposentos. Sou grande! Invisível e terrível!

Eles estão com cara de dopados - sorrio, entre dentes. Estendidos em cima da cama, nus depois do amor impuro, parecem dormir um sonho pesado e satisfeito.

"--- Pena, pena mesmo! - volto a pensar, da minha visão. --- Logo agora, que estou por toda casa, inflamável e violento!"

Até os fios do telefone em curto podem ocasionar a centelha fatal.

Lembro que pedi ao serviço telefônico para me acordar às três da tarde. Está quase na hora!

O relógio da sala faz tic-tac, tic-tac. Falta poucos segundos para bater! Tic-tac, tic-tac!

Triiiiimmmmmmm!

O serviço telefônico, como sempre, é eficiente.

A explosão ainda ecoa nos meus ouvidos.

*****

Volto à minha realidade, do quarto de pensão. Meus olhos distantes observam através da vidraça o nascer de um novo dia. Vejo alguns pingos solitários, caindo suavemente, avisando que a tempestade passou.

Abro a janela e sinto uma brisa fresca alisando o meu rosto. O dia vai ser ensolarado, com pássaros cantando e brincando à procura de alimentos. "--- A vida é bela - falo, com meus botões. --- Muito bela - concluo, enquanto passo a mão no bolso do paletó sentindo o volume da passagem aérea. Meu vôo internacional saí as 14:00 horas. Preciso me apressar.


Olho para o chão e a manchete do jornal, esquecido num canto, estampa com letras garrafais a notícia do dia.

EXTRA!!!
FUNCIONÁRIO DE BANCO
DÁ DESFALQUE NO CAIXA E MORRE CARBONIZADO COM A MULHER EM INCÊNDIO COLOSSAL!

Mais abaixo o texto do repórter dizia o seguinte:

De acordo com informações oficiais, o funcionário fulano de tal, do banco ***** havia dado um desfalque no banco em que trabalhava, levando mais de cem milhões em dinheiro.

Ele, ao chegar em casa e tranca-se com a mulher no quarto, para fazer amor e comemorar. Depois, provavelmente, dormiu o sono dos justos para descansar, com mil planos na cabeça, do que iria fazer com o dinheiro. Havia um vazamento de gás que acabou explodindo tudo.


De acordo com as autoridades ainda não foi detectada a origem da centelha que provocou a explosão, ouvida pouco antes do incêndio que tudo destruiu.

Os corpos carbonizados foram encontrados estirados, um ao lado do outro, juntamente com os restos de uma maleta, provavelmente a que continha o dinheiro, sem possibilidades de reconhecimento, salvo algumas notas chamuscadas e irreconhecíveis.

Ironia do destino. Morreu junto com o dinheiro que tanto sonhou e, quem sabe, tudo podia mudar - finaliza.


02/01/1984 10:53hrs.
09/06/2003 19:45hrs.
10/06/2003 07:39hrs.

 

 

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